Dor Lombar: os sinais de alerta em que você deve prestar atenção!

Como já destacamos em outro artigo, a lombalgia é uma condição muito prevalente na população e até 80% das pessoas terão dor na região lombar em algum momento da vida. Ela é responsável por cerca de 10 % dos afastamentos do trabalho por mais de uma semana, sendo responsável por grande morbidade e perda de função quando ocorre de modo crônico. A dor lombar crônica é uma condição complexa e muitas vezes se torna difícil diagnosticar com precisão a sua causa, podendo se apresentar em associação à uma grande variedade de outros sintomas.
Ela pode ter um caráter inespecífico, como ocorre nos casos de dor lombar mecânica, mas pode estar associada a alterações do sistema nervoso com um componente de neuropatia (acometimento dos nervos) ou ainda ser secundária a alguma patologia específica, como os tumores. Sendo assim, as etiologias mais comuns de dor lombar podem ser enumeradas da seguinte forma:
- Dor mecânica (80 a 90% dos casos): maioria das vezes associada a inflamação ou contratura muscular ou sobrecarga ligamentar. Desgastes dos discos, fraturas, instabilidades da coluna, doenças articulares (desgaste das facetas articulares);
- Neurogênica (5 a 15%): a exemplo das hérnias de discos e inflamações das raízes nervosas;
- Dor de origem não mecânica (1 a 2%): infecções, tumores, doenças reumatológicas, como artrite reumatóide e espondilite anquilosante;
- Dor de etiologia visceral (referida): também constitui cerca de 1% dos casos, acontece secundariamente a patologias em outros sistemas, podendo estar relacionada a doenças intestinais inflamatórias, problemas renais e doenças vasculares, como o aneurisma de aorta;
- Outras etiologias: fibromialgia, transtornos psiquiátricos. Esses são diagnósticos de exclusão, ou seja, via de regra devemos descartar outras causas possíveis da dor para pensarmos nesses diagnósticos.
Uma vez cientes das principais causas da dor lombar, devemos estar atentos a certos sinais e sintomas de alarme, bem como a determinadas características da dor que, quando presentes, exigem prontamente uma investigação mais atenta e detalhada do paciente, pois podem ser devidos a outras doenças e não apenas a manifestação de uma lombalgia mecânica aguda. São eles:
- Pacientes com idade acima de 50 anos ou abaixo dos 20 anos;
- História de infecção bacteriana recente, como infecção urinária;
- Pacientes dependentes químicos ou imunossuprimidos;
- Presença de febre ou dor que piora no período noturno;
- Pacientes jovens que sofreram traumas de grande energia, como acidentes automobilísticos ou quedas de alturas;
- Pacientes idosos com osteoporose, mesmo sem história de traumas importantes;
- Pacientes com disfunções da bexiga ou dificuldade para urinar ou evacuar;
- Presença de anestesia ou formigamento na região interna das coxas;
- Presença de alteração de sensibilidade ou perda de força nos membros;
- Persistência da dor mesmo com tratamento por mais de 6 semanas.
Nesse grupo de pacientes, a dor lombar pode ser manifestação de algum problema de saúde mais grave que exige diagnóstico e tratamento adequados o mais precocemente possível, como tumores, infecções, fraturas vertebrais ou os quadros de síndrome da cauda equina, a serem oportunamente abordados em outros artigos.
Desse modo, tendo em vista as inúmeras causas da dor lombar e suas variadas formas de apresentação, existem também diversos tipos de tratamento, a depender do caso específico de cada paciente. Na maioria das vezes, medidas simples como repouso, uso de analgésicos comuns ou antiinflamatórios por curtos períodos e tratamentos complementares (como fisioterapia) são suficientes para melhora dos sintomas a curto e médio prazos. Entretanto, em determinadas situações podem ser necessários tratamentos mais específicos, como as infiltrações lombares ou até mesmo os tratamentos cirúrgicos, como no caso da cirurgia endoscópica para tratamento de alguns casos das hérnias de disco lombares.
Por isso, se você apresenta dor lombar persistente (por mais de duas semanas) ou em associação com alguns dos sinais e sintomas de alarme descritos, procure avaliação médica especializada para o diagnóstico correto e tratamento mais adequado para o seu caso. Por outro lado, em muitos pacientes, como aqueles que sofrem de transtornos depressivos ou de ansiedade e grande sobrecarga no trabalho, o quadro de dor lombar pode ser recorrente, mesmo quando sem estar associado com os sinais e sintomas de alarme descritos, o que do mesmo modo exige acompanhamento especializado. Os fatores psicossociais por si só podem contribuir para o desenvolvimento e agravamento da dor lombar.
Dor lombar e COVID-19: Existe relação?
O período de pandemia em que vivemos por si só tem agravado os sintomas daqueles pacientes que já sofriam com dores crônicas de diversas etiologias. São cada vez mais comuns em consultório as queixas álgicas de origem osteomuscular e, entre elas, muitas vezes a lombalgia. Diversos são os fatores para que isso ocorra, pois devemos ressaltar que a dor, como experiência subjetiva, está intimamente relacionada com fatores biológicos, psicoemocionais e sociais. Desta perspectiva, o isolamento social, alterações da rotina de trabalho (como o home office), aumento de estresse mental, piora do padrão de sono e diversas outras mudanças do cotidiano nesse período vem sendo relacionadas tanto ao surgimento quanto à piora das dores em geral.
Além disso, apesar de não ser um sintoma específico de pacientes infectados pela COVID, a dor lombar pode estar presente nesses pacientes em associação com outros sintomas, assim como as dores articulares e musculares (mialgias). devemos lembrar que alguns pacientes queixam-se de piora das dores osteomusculares após terem sido acometidos pela doença e muitos deles queixam-se de piora da dor lombar crônica mesmo muitas semanas depois de terem se recuperado da infecção. Isso provavelmente, entre outros fatores, tem relação com o caráter inflamatório da doença.
Desse modo, pacientes que tiveram COVID e desenvolveram como sequela dor lombar persistente ou sofreram piora de quadro prévio de lombalgia, devem procurar também por uma avaliação médica especializada.
Referências
- Low back pain - a diagnostic approach. Darlan Castro Almeida, Durval Campos Kraichete. Rev. Dor. Sao Paulo 2017. apr-jun:18(2):173-7.
- Diagnostico e tratamento das lombalgias e lombociatalgias. Rev Bras Reumatol. vol 44. n6. p 419-25. nov-dez-2004.